

Gabi Serrano: Traços de Arte, Expressão e Identidade
Gabi Serrano nasceu e cresceu em Bonsucesso, Zona Norte do Rio de Janeiro, em um lar humilde. Filha de um garçom e de uma técnica de enfermagem, cresceu em meio às dificuldades financeiras e com poucas oportunidades de lazer. Seu mundo infantil foi moldado pela televisão, enciclopédias dos anos 90 e os momentos preciosos na casa da avó, onde descobriu o carinho pelo artesanato através dos bordados e pinturas em tecido, além do cultivo de plantas. Desde pequena, Gabi demonstrava uma paixão incontrolável por arte.
Desenhar, pintar, costurar e escrever eram suas formas preferidas de expressão. No colégio, se destacava ao criar capas de trabalhos e maquetes, tanto para si quanto para seus amigos. Seu aprendizado em desenho teve início com revistas especializadas compradas em bancas de jornal, estudadas a ponto de se desgastarem com o tempo. A formação acadêmica de Gabi se deu através do curso de Moda no SENAI/CETIQT, onde teve contato com modelo vivo e história da arte. Posteriormente, aprofundou seus estudos com cursos de desenho na Tijuca e no Parque Lage, focando em Modelo Vivo e Realismo.
As influências artísticas de Gabi vieram principalmente da moda e da música. Ela se inspirou em grandes nomes como Vivienne Westwood, Alexander McQueen, L7, Avril Lavigne, Bikini Kill, Hole, Gorillaz e animes como Sakura Card Captors, que marcaram o início do seu estilo de desenho. A tatuagem sempre esteve presente na vida de Gabi. Na infância e adolescência, desenhava no próprio corpo com caneta bic e se encantava com as tatuagens de chiclete. Apesar do desejo de se tornar tatuadora, a baixa autoestima a impedia de acreditar que era possível.
Com o incentivo de amigos ilustradores, começou a desenhar com mais frequência e frequentar workshops. Em um desses eventos, teve a certeza de que a tatuagem era seu caminho. Determinada, conseguiu um emprego de recepcionista apenas para comprar seus equipamentos. Sua grande oportunidade veio quando se tornou aprendiz de Suliée Pepper, uma renomada tatuadora brasileira. Suliée não apenas ensinou as técnicas, mas também serviu como uma mentora e amiga.
Iniciar na tatuagem em 2015, sendo mulher e jovem, não foi fácil. O machismo no meio era evidente, e estúdios muitas vezes recusavam vê-la como profissional. A primeira experiência de buscar um estúdio foi desanimadora, com um dono de estúdio sequer querendo olhar seus desenhos. Mas a paixão e persistência de Gabi falaram mais alto, e ela continuou estudando e aprimorando sua arte. Seu estilo evoluiu para o micro realismo, especialmente com temas de pets, embora explore outras técnicas como blackwork e sumie, focando em peso, contraste e textura. Seus trabalhos frequentemente incluem temas de natureza e bruxaria, como luas, gatos, vassouras e representações femininas, acreditando na tatuagem como uma forma de rito de passagem e conexão ancestral.
Em 2019, durante seu tempo na CasaXottta, Gabi iniciou um projeto de ressignificação vinculado ao Setembro Amarelo. Realizou tatuagens de ponto e vírgula a preço de custo e reverteu parte dos lucros para o Centro de Valorização da Vida. Ainda hoje, continua a oferecer essas tatuagens para coberturas de cicatrizes de automutilação, um dos trabalhos mais significativos de sua carreira. A participação na CasaXottta foi uma experiência marcante, permitindo que Gabi se descobrisse como artista independente e conhecesse uma rede de mulheres que revolucionaram o mercado da tatuagem.
Gabi participou de convenções no início da carreira, mas nunca concorreu a prêmios, pois o ritmo exaustivo das competições não condiz com seu estilo de trabalho.
Seu sonho é realizar uma tattoo tour pela América Latina, explorando novas culturas e expandindo seu repertório artístico. Sua abordagem profissional é pautada pela transparência e ética. Não copia trabalhos de outros artistas e se recusa a tatuar nomes de namorados, por acreditar que pode gerar arrependimento. Também evita técnicas que não domina e não tatua clientes indecisos.
O relacionamento com os clientes é fundamental para Gabi. Prefere criar algo baseado nas referências trazidas pelos clientes, sempre buscando dar créditos a artistas originais e prezando pela autenticidade. Ao longo da carreira, viveu situações inusitadas, como tatuar a bunda de marinheiros ingleses em meio a uma aposta, lidar com clientes que desmaiaram ou esqueceram agendamentos por terem viajado sem avisar.
Fora do trabalho, Gabi busca se desconectar das redes sociais para encontrar inspiração no tédio, na leitura e no contato com a natureza. Fazer trilhas e fotografar paisagens é uma de suas atividades preferidas. Seu legado vai além da arte na pele. Gabi se orgulha de ter ajudado outras mulheres a ingressar na tatuagem, um campo que historicamente foi dominado por homens. Seu maior desejo é que mais mulheres ocupem esse espaço e continuem transformando a cena da tatuagem. A tatuagem, para Gabi Serrano, é mais do que estética; é identidade, história e revolução.
Portifólio








